sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Soneto de Intimidade

Nas tardes da fazenda há muito azul demais. 
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto agora 
Mastigando um capim, o peito nu de fora 
No pijama irreal de há três anos atrás. 

Desço o rio no vau dos pequenos canais 
Para ir beber na fonte a água fria e sonora 
E se encontro no mato o rubro de uma amora 
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais. 

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume 
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme 
E quando por acaso uma mijada ferve 

Seguida de um olhar não sem malícia e verve 
Nós todos, animais sem comoção nenhuma 
Mijamos em comum numa festa de espuma.

Vinicius de Moraes

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