sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Machado de Assis e o Teatro

Resenha do livro Machado de Assis e o Teatro, por Gustavo Schiavinatto.

FARIA, João Roberto. Machado de Assis do Teatro. Editora Perspectiva, São Paulo, 2008.
João Roberto Faria lança em 2008, o centenário da morte de Machado de Assis, uma reunião de textos críticos e escritos diversos de Machado a respeito do teatro. Faria é um dos mais dedicados pesquisadores da crítica machadiana, e na presente publicação mostra a reunião de um vasto trabalho de pesquisa, como diz Faria em nota prévia: “A idéia de reunir os escritos de Machado de Assis sobre o teatro me veio à mente no final de 2003, quando, a convite de Alfredo Bosi, escrevi o ensaio “Machado de Assis, Leitor e Crítico de Teatro”, que a revista Estudos Avançados, da Universidade de São Paulo...”
O presente interesse pelos textos críticos de Machado nos remete inevitavelmente à sua juventude, pois, temos como marco de seu primeiro texto nesse sentido “Ideias Vagas – A Comédia Moderna”, publicado na Marmota Fluminense, em 31 de julho de 1856, estava Machado com apenas 17 anos. Hoje Machado é conhecido amplamente pela sua ficção em seus contos e romances, pois como se sabe, Contos Fluminenses é de 1870 e Ressurreição, de 1872. Verificamos uma maior atividade crítica em sua juventude, “já na casa dos vinte anos de idade era uma peça-chave no debate cultural do seu tempo” (p. 21). A principal matéria-prima para a construção sua reputação intelectual foi o teatro, relegado ao segundo plano, posteriormente, pelos estudiosos da obra machadiana. Reavaliar o valor da crítica teatral e usá-la para compreender toda a produção literária de Machado é, portanto, de suma importância.
O livro foi organizado em ordem cronológica, contando sempre a fonte e o dia exato de publicação. Seguem em tópicos as principais fontes da critica teatral machadiana em ordem cronológica, e, a cada uma delas, um trecho de sua crítica:

Machado de Assis – A Marmota Fluminense 31 jul. 1856
“O teatro assim como a imprensa é uma página brilhante pela qual se conhece o estudo e o grau de civilização de um povo […] No meio, pois, destes desvairos, de progressos e civilização, é o teatro olhando como o verdadeiro lugar de – distração e ensino; - o verdadeiro meio de civilizar a sociedade e os povos.[…] Ao teatro ver a sociedade por todas as faces: frívola, filosófica, casquilha, avara, interesseira, exaltada, cheia de flores e espinhos, dores e prazeres, de sorrisos e lágrimas! […] Ao teatro! Ao teatro!” (FARIA, 2008. p. 107-109).

Machado de Assis – O Espelho 25 set. 1859
“Entre nós não há iniciativa. [...] não há mão poderosa que abra uma direção aos espíritos; há terreno, não há semente; há rebanho, não há pastor; há planetas, mas não há centro de sistema. Assim basta apenas a boa vontade de um exame ligeiro sobre a nossa situação artística para reconhecer que estamos ainda na infância moral.” (FARIA 2008. p. 130)

Machado de Assis – O Diário de Rio de Janeiro 25 set. 1860
“Criar no teatro uma escola de arte, de língua e de civilização, não é uma obra da concorrência, não pode estar sujeita a essas mil eventualidades que têm tornado, entre nós o teatro uma coisa difícil e a arte uma profissão incerta. [...] É na ação governamental, nas garantias oferecidas pelo poder, na sua investigação imediata, que existem as probabilidades de uma criação verdadeiramente séria e seriamente verdadeira. [...] Virá o estímulo, os outros aprenderão no primeiro, e a arte tornar-se-á um fato, uma coisa real. Mas deixar à luta individual a criação de uma escola nas condições exigidas, equivale a não criar coisa alguma. E se alguma coisa se fizer há de ser em demasia lento. [...] Não é o teatro uma escola de moral? Não é o palco um púlpito? Diz Victor Hugo no prefácio da Lucrécia Bórgia...” (FARIA, 2008. p. 253-254).

Machado de Assis - Conservatório Dramático 16 mar. 1862
“Sinto deveras ter de dar o meu assenso a esta composição (Clermont) porque entendo que contribuo para a perversão do gosto público e para a supressão daquelas regras que devem presidir ao teatro de um país de modo a torná-lo uma força de civilização.” (FARIA 2008. p. 265)

Machado de Assis – O Futuro 15 set. 1862
“Quisera falar de teatros, mas os teatros não me dão largo campo para falar deles, ou, arrisquemos antes a verdadeira expressão, não me dão campo absolutamente nenhum. [...] Para os que, como eu, vêem no teatro uma tribuna e uma escola, é triste contemplar o abandono em que ele jaz, sem que a iniciativa oficial intervenha com a sua força e com a sua autoridade.” (FARIA 2008. p. 276-278)
Machado, já em sua juventude, idealiza a arte como principal parceira da cultura e educação no desenvolvimento do país, e, em sua maturidade, deixa sinais da importância que o teatro teve em seu desenvolvimento intelectual e literário. Um livro desafiador para os que acreditam que se pode compreender a obra de Machado apenas lendo seus romances, e muito especial para os que se interessam pelo teatro nacional ou pelo aprofundamento na obra de nosso grande mestre.

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