terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Eu cantarei de amor tão docemente,

Eu cantarei de amor tão docemente, 
por uns termos em si tão concertados, 
que dous mil acidentes namorados 
faça sentir ao peito que não sente. 

Farei que amor a todos avivente, 
pintando mil segredos delicados, 
brandas iras, suspiros namorados,
temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto 
de vossa vista branda e rigorosa, 
contentar me hei dizendo a menos parte.

Porém, para cantar de vosso gesto 
a composição alta e milagrosa, 
aqui falta saber, engenho e arte.

Luís de Camões

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